(Fernando Pessoa)
Então onde é que eu sinto um dia
Em que ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia ?
Onde é que chove, que eu o ouço ?
Onde é que é triste, ó claro céu ?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...
E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.
Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuro, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...
No claustro sequestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos,
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...
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A chuva de ontem poderia ter lavado minha tristeza, mas não, minha tristeza não tem fim, mas seguirei, seguirei pelos que eu amo, seguirei pois não sei fazer diferente, nesse que foi o pior ano da minha vida, vida essa que me tirou a uma semana o que eu ainda tinha de referência de família, vida que não faz nenhum sentido, não há sentido algum na vida, a não ser viver, não pude ao menos dizer adeus pra vó, ela não me esperou, eu sempre pedi pra ela me esperar, mas dessa vez ela não conseguiu, a incompetência do serviço público de saúde foi mais forte do que a pessoa mais forte que eu conheci, ela não teve forças para enfrentar a falta de um plano de saúde que lhe foi roubado por um neto drogado e por familiares permissivos que passam a mão na cabeça de um marginal e desprezam os corretos, a vida não faz nenhum sentido, só me resta viver, viver sem minha referência de família, em janeiro o vô me deixou, eu estava ao lado dele, e a uma semana a vó teve que ir, mas sua vida foi abreviada e isso eu jamais aceitarei, minha tristeza não terá fim, mas seguirei, pois não sei fazer diferente...
"Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim."
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Adeus vó, você sabe que eu tentei, você sabe que eu fiz o que eu pude, desculpa, não consegui sozinha, a vida não faz nenhum sentido, mas seguirei, pois não sei fazer diferente.
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"Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés"
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